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Uma união extraordinária – Um romance de época que vai para além dos clichês do seu gênero

  • odisseialiterariaa
  • 15 de abr. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de mai. de 2024

Uma União Extraordinária é uma história que impressiona por seu pano de fundo com detalhes históricos estimulantes, e por seu criticismo. Além de, claro, possuir o romance que traz leveza ao livro.


A autora, Alyssa Cole, criou a trama no período da Guerra Civil nos Estados Unidos, em uma época em que a confiança das pessoas estava totalmente destruída. Em uma briga entre os nortistas, formada pelos estados do Norte que apoiam o fim da escravidão, e os sulistas, os estados do Sul que desejam se separar dos Estados Unidos para continuar com o regime escravocrata; E este, era apenas o início da Guerra da Secessão no país. Porém, já não se sabia quem era amigo e quem era inimigo. Com a sociedade dividida e rodada de espiões, Alyssa começa este romance.


A autora pesquisou os mínimos detalhes para trazer o máximo de veracidade da realidade da época, falando e criticando a maneira que o povo negro era tratado, e como a luta dele era, e ainda é, tão importante. Nisso, ela nos apresenta a protagonista: Elle Burns, uma ex-escravizada que faz parte da Liga da Lealdade, uma sede de espiões nortistas. Uma personagem incrivelmente forte, inteligente, resiliente, gentil e com sede de justiça. Por diversos momentos, foi difícil ler as violências tão reais que ela sofreu, e como ela largou sua liberdade para retornar ao Sul, ao sistema cruel da escravidão, para ajudar seu pais e seus irmãos a se libertarem completamente.


"— Nós não queremos vingança, Malcolm. - Elle o encarou como se ele fosse o desgraçado mais obtuso que já andara na Terra. - Nós queremos ter direito a uma vida, à liberdade e à busca pela felicidade, assim como qualquer outro tolo nos Estados Unidos tem, não sendo negro ou indígena. Então você pode ficar com raiva. Tudo o que posso fazer é tentar fazer uma diferença."

A trama segue do seu ponto de vista e nós acompanhamos desde o começo da sua missão, até o fim dela. Elle é uma personagem auto suficiente e com uma memória fotográfica, o que pode ser considerado uma bênção para alguns, para ela é uma maldição às vezes, uma vez que ela não consegue apagar as memórias ruins da sua mente. Além disso, ela acredita que a única coisa atrativa em si é a sua extraordinária memória. Sendo demasiada, desconfiada - o que gera incômodo ao leitor algumas vezes, pois criam-se conflitos desnecessários. Mas, é algo compreensível quando você se coloca no lugar dela e “vê” tudo o que ela passou.


Nesse meio, aparece o protagonista masculino, trazendo o clichê do romance. Malcolm McCall é um detetive do Serviço Secreto, que possui a arte de se adaptar em qualquer meio, com o seu charme típico. E, mesmo tendo enfrentado diversas situações perigosas, a sua situação atual está crítica: ter que se infiltrar como um agente duplo entre as confederações. Fingindo ser um agente sulista e que apoia a causa.


Em alguns momentos do livro, temos o ponto de vista dele, o que ajuda a compreender as dores e sentimentos do personagem. Apesar de parecer que Malcolm foi somente inserido no livro para ser par romântico da Elle, ele acarreta muito mais, mostrando as dificuldades que os escoceses também sofreram naquela época. E, ainda, apresenta o toque leve à trama, sendo mais calmo e carinhoso que a própria Elle. Nesse sentido, a junção do casal trouxe uma sensação de equilíbrio, o que faltava em um, o outro compensava.


Alyssa Cole, inclusive, se inspirou em pessoas reais para criar seus personagens. Elle foi inspirada em Mary Bowser, uma antiga escravizada que possuía a memória eidética (pensamento de que algumas pessoas têm a capacidade de relembrar distinções do passado ou cenas já vistas exatamente como são), e que foi colocada dentro da Casa Branca para coletar informações para a União. Malcolm, foi baseado em Timothy Webster, um dos melhores detetives de Pinkerton durante a guerra. Apenas posso dizer: a autora foi magnífica em cada minucioso detalhe que pesquisou para escrever este livro! Tem até uma bibliografia ao fim dele, com todas as referências em que ela pesquisou (entre livros, artigos, jornais). Para mim, Alyssa foi icônica, uma autora que merecia mais reconhecimento pelos seus romances, sem dúvida.


Para finalizar, o romance entre os protagonistas também encanta o leitor. Jamais deve-se desprezar a presença dele na história, pois ele mostra que ter alguém para confiar e se apoiar pode salvar a sua vida, metafórica e fisicamente. A conexão de Elle com Malcolm foi muito boa de ler, as diferenças entre eles só deixou a relação com mais envolvimento, a meu ver. Sem contar, que a autora quebrou estereótipos ao apresentar todo o processo em que se construiu a relação deles. Gostei muito dos dois juntos, um casal que me encantou.


"Elle abaixou o rosto para não ter que lidar com o jeito que Malcolm a encarava, como se ela fosse um livro com o qual ele queria se envolver por dias sem fim, saboreando cada palavra."

Mesmo com o nosso país tendo uma vasta população negra, temos pouquíssimos romances de época com protagonismo negro e que abordem a luta abolicionista.


Um romance arrebatador que mostra a intensidade de se apaixonar perdidamente, enquanto questiona a escravidão, o racismo estrutural. Uma obra que vale a pena se conhecer.


+18 anos, contém conteúdo adulto.

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