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Jane Eyre - um clássico atemporal

  • odisseialiterariaa
  • 6 de out. de 2023
  • 6 min de leitura
“Um novo capítulo num romance é como uma nova cena numa peça de teatro.”

Charlotte Brontë foi uma escritora e poetisa inglesa, sendo a mais velha das irmãs a chegar na idade adulta. Desde criança era uma leitora voraz, que não contente em apenas ler, começou a escrever. Mas por ser mulher, sofreu rejeição em todas as editoras em que enviou seus manuscritos, mesmo utilizando o pseudônimo masculino “Currer Bell”. Seu livro mais conhecido é Jane Eyre, porém escreveu outros títulos que também se tornaram consagrados na literatura inglesa e mundial, como “Villette”, “Shirley” e seu primeiro romance, “O Professor”. Sua obra só veio ser publicada, infelizmente, após sua morte precoce aos 38 anos de idade.


Esta resenha, irá falar sobre Jane Eyre, seu trunfo. A obra é um romance que foi lançado em 1847, sendo intitulada como uma biografia ficcional por contar desde a tenra infância até a vida adulta da personagem. Um livro famoso, sem dúvidas, e que na época foi consagrado até pela rainha Vitória, que fez elogios e chamou a escrita de Charlotte como “poderosa” e ‘admirável”. Mesmo assim, por ser uma leitura considerada “moderna demais” para o século XIX, alguns críticos chamarem a história de “anticristã”, algo característico da Era Vitoriana.


Como dito anteriormente, Jane Eyre contará a história da protagonista que tem seu nome como título do livro. Algo que pode passar despercebido para muitos, porém isto só demonstra a intenção da autora de deixar claro que a história seria totalmente direcionada a vida da personagem e sua jornada.


O enredo segue a narrativa da pequena órfã Jane Eyre, que vive infeliz na casa de parentes que a tratam mal. Ela se isola no meio dos livros, se tornando uma leitora sedenta por conhecimento e com ideais considerados inadequados para uma mulher naquela época, o que deixa seus tutores mais irritados. Até que a mandam para um colégio interno, no qual, apesar das dificuldades e desafios, ela se sente feliz pela primeira vez.


Após estes acontecimentos, o livro tem um salto temporal e chegamos a sua fase adulta, no qual, acompanhamos Jane em seu novo emprego como preceptora na mansão de Thornfield Hall, onde conhece o enigmático proprietário Sr. Edward Rochester. A partir deste momento, o romance se inicia.


Mas o que tornou o livro um clássico da literatura inglesa tão aclamado por aqueles que o leem e que faz sucesso entre os leitores até os dias atuais?


Charlotte trouxe uma história atemporal, com críticas à sociedade, a moralidade do homem e personagens distintos que criavam incômodo nos conservadores da época. A autora escreveu uma protagonista que não aceita que o papel da mulher é apenas casar e ficar em casa, sem estudar e trabalhar seu intelecto. Tanto que Jane tem objetivos traçados e vai atrás deles, mesmo com todas probabilidades contra ela. Criando, assim, uma densa e direta crítica a maneira como a mulher era vista e tratada na sociedade. Citando um trecho do livro que apresenta toda a sua criticidade:


“[…]. Das mulheres se espera que sejam muito calmas, de modo geral. Mas as mulheres sentem como os homens. Necessitam exercício para suas faculdades e espaço para os seus esforços, assim como seus irmãos; sofrem com uma restrição rígida demais, com uma estagnação absoluta demais, exatamente como sofreriam os homens. E é uma estreiteza de visão por parte de seus companheiros mais privilegiados dizer que elas deveriam se confinar a preparar pudim e tricotar meias, a tocar piano e bordar bolsas. É insensato condená-las ou rir delas se buscam fazer mais ou aprender mais do que o costume determinou necessário ao seu sexo.”

Jane Eyre tem muitos questionamentos ao longo do livro, fazendo seus sentimentos se manifestarem. É instigante acompanhar a história de uma protagonista que permite o leitor se identificar com suas emoções e dores. Que consegue transmitir o que está sentindo; gerando, inclusive, empatia para si. Com uma alma livre, que busca conhecer o mundo e, consequentemente, a si mesma, nossa querida Jane, ao quebrar a quarta parede (uma parede imaginária que separa os atores do público, e ao quebrá-la, se rompe essa divisão e acontece uma interação entre o espectador e o ator; neste caso, entre o narrador e o leitor), passa a impressão de que estamos conversando com uma amiga de longa data. Permitindo ao leitor que se conecte com o que está acontecendo, vivenciando mais profundamente o que está sendo contato.


“[…]. Agora e lembrava de que o mundo real era vasto, e de que uma variada gama de esperanças e temores, de sensações e exaltação aguardava aqueles que tinham coragem de se aventurar por sua amplitude, de buscar o verdadeiro conhecimento da vida em meio aos seus perigos.”

Um grande louvor a escrita de Charlotte Brontë, que teve a maestria de transmitir os sentimentos tão complexos nas páginas de um romance.


Além de suas críticas, a autora também trouxe fortes características da melancolia e do romance gótico. Com uma trama que, mesmo enfatizando o lado romântico, apresentou um mistério que envolve a vida de Jane Eyre em Thornfield Hall. As cenas angustiantes, descritas de maneira sombria, causam aflição e tensão. É quase impossível não criar teorias ou imaginar que algo sobrenatural poderia estar acontecendo. Principalmente pela personagem ter momentos de premonição. O que, claramente, foi bem orquestrado pela escritora, pois demonstrava as emoções negativas que rondavam os pensamentos de Jane. Que por vezes, beirava a fantasia.


“Tentei voltar a dormir, mas meu coração batia com ansiedade: minha tranquilidade se fora. O relógio, lá embaixo no vestíbulo, soou duas horas. Nesse instante, pareceu que algo tocava a porta do meu quarto; foi como se dedos tivessem roçado os painéis ao tatear seu caminho pelo corredor escuro lá fora.”

Também revelava pequenos traços do passado triste e polêmico do Sr. Rochester, aumentando o suspense que envolvia a vida de Jane naquela mansão. Em alguns trechos, suas observações chegavam a ser assombrosas, como na citação abaixo:


“Foi uma risada demoníaca - baixa, abafada e profunda - que vinha, aparentemente, da fechadura da porta do meu quarto. A cabeceira da minha cama ficava próxima à porta, e pensei, a princípio, que a risada de duende estava ao meu lado - ou, antes, junto ao meu travesseiro. Levantei-me, porém, olhei ao redor, e não pude ver nada.”

Outro ponto que é um grande diferencial desta obra, foi a forma como Jane e Sr. Rochester foram descritos. Contrariando os romances da época, em que, as mocinhas e seus heróis eram idealizados e vistos como seres puros e perfeitos, Jane é inquietante, com traumas da infância e pensamentos desconcertantes. Enquanto o Sr. Rochester é um típico anti-herói, com uma moral duvidosa e que faz nos questionar suas ações boa parte do livro. E o enlace romântico entre eles também não segue o padrão da época, com dois protagonistas distintos e que possuem fortes opiniões, o amor de Jane e Rochester é permeado por diálogos inteligentes, ácidos e perspicazes, envolto de dramas e segredos que irão fazer com que o nosso casal duvide se amor aguentará todas as provações.


“Ele é o meu tipo. Sinto-me próxima dele, entendo sua linguagem de seu rosto, de seu gestos. Embora estejamos separados pela classe e pela riqueza, trago em mim, no coração e na mente, no sangue e nos nervos, algo que me associa a ele.”

Com os momentos finais do livro, todos os problemas começam a ser solucionados e explicados ao leitor. A grande confissão do Sr. Rochester acontece, encaminhando o livro para o clímax, no qual, Jane se baseia para tomar decisões importantes para dar continuidade a sua jornada. Decidindo se permanecerá ao lado de seu amado ou se seguirá por outro caminho, elaborando uma nova rota para seu destino.


Jane Eyre acaba sendo, de certa forma, a grande heroína da história. Salvando, inclusive o Sr. Rochester dos seus pecados. Como uma boa católica, ela acredita na redenção, inclusive a de sua própria alma.


“A vida me parece curta demais para ser gasta nutrindo animosidades ou recordando erros.”

Um livro que atravessou gerações e as mudanças no mundo, mas que se manteve grandioso, com leais fãs por todo lugar e que pode ser considerado atual. Jane Eyre é uma das protagonistas mais fortes que já li. E mesmo sendo uma biografia ficcional, as vezes você se questiona se ela realmente não existiu. Uma personagem tão complexa, cheia de nuances e camadas, que conversa com o leitor por entre as páginas, poderia ter sido somente uma criação da mente de Charlotte Brontë? Sem dúvida, um clássico que merece ser reverenciado como tal.


“Mas eu continuava viva, e a vida, com suas necessidades e dores e responsabilidades, me chamava. O fardo precisava ser carregado, as necessidades satisfeitas, o sofrimento enfrentado, as responsabilidades assumidas.”
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